segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Não se pode amar ou odiar quem não se conhece ainda


Não se pode amar ou odiar quem não se conhece ainda". Esta frase, dita por Leonardo da Vinci, resume o quanto a maioria dos brasileiros sabe sobre o Terceiro Setor. Poucos são os que se arriscam a conhecer a fundo esta importante força que nasceu com nosso país e que contribui, diariamente, na recuperação e melhoria da qualidade de vida dos necessitados.
Ao olhar de fora, a sociedade classifica o Terceiro Setor, ou melhor, as “ONGs", como instrumentos utilizados para malversação do dinheiro público. Infelizmente, essa ideia transita no pensamento da população, e por isso é preciso separar o joio do trigo e deixar claro à sociedade que as verdadeiras entidades do Terceiro Setor foram criadas com o objetivo de proporcionar aos cidadãos o exercício dos direitos sociais previstos no artigo 6º da Constituição Federal.
No que diz respeito ao financiamento do Terceiro Setor no Brasil, apenas 15,5% de toda a sua fonte de receita é proveniente do Estado e as doações privadas representam 10,7% da receita. A principal fonte de receita de tais entidades são os recebimentos pelos serviços prestados, chegando a 73,8% dos recursos, provenientes principalmente do pagamento de taxas por serviços prestados por hospitais e instituições de educação.

Percebe-se, portanto, que além de preencher lacunas deixadas pelo Poder Público, as entidades do Terceiro Setor no Brasil são autossustentáveis.
Segundo o Observatório das Metrópoles (ligado ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia), dados extraídos de estudos realizados pela Universidade Johns Hopkins (EUA), mostram que a estrutura de renda do Terceiro Setor no Brasil e na América Latina se baseia prioritariamente na autorreceita ou autofinanciamento, diferentemente do padrão verificado para os países desenvolvidos.
Conforme as informações da universidade americana, nos países ricos a média de autofinanciamento do Terceiro Setor é de 44,6%, isso porque o Estado aparece igualmente como um importante financiador do Terceiro Setor, com média de investimento na ordem de 48,2%.
Entretanto, salienta-se que não existe um padrão para o bloco dos países desenvolvidos, existindo tanto países que têm o Terceiro Setor financiado prioritariamente pelo Estado, como Áustria (50,4%), França (57,8%), Alemanha (64,3%) Irlanda (77,2%), Países Baixos (59%) e Reino Unido (46,7%), como países que, apesar de apresentarem alto índice de investimento estatal, ainda têm como fonte principal de receita o autofinanciamento, como por exemplo os EUA, que apresentam 30,5% de financiamento estatal, 12,9% de filantropia privada e 56,6% de recursos próprios do Terceiro Setor.
O Terceiro Setor brasileiro é mais uma prova de que mesmo em um país com tantas desigualdades, o povo brasileiro, por suas próprias forças, é capaz de depender cada vez menos do Estado. E esta mesma sociedade civil organizada, refletida nas entidades do Terceiro Setor, é responsável por mais de 5% do PIB e consegue oferecer aos cidadãos os serviços sociais básicos garantidos pela Constituição Federal.
*Artigo escrito por Roberto Siquinel, advogado membro da Comissão de Direito do Terceiro Setor da OAB/PR e colaborador do Núcleo Interdisciplinar do Terceiro Setor (NITS) daUniversidade Federal do Paraná, parceira do Instituto GRPCOM.

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